SGPAN Caeté - 10 anos de luta pelos animais

 

Você gostaria de trabalhar de graça para o poder público e ainda acumular uma dívida de 30 mil reais? Você gostaria de ter a casa lotada de cães e gatos porque resgatou doentes na rua e não tinha para onde levar?

 

Gostaria de perder noites de sono, horas de lazer, prejudicar sua vida pessoal, profissional e financeira para resgatar cães e gatos doentes, transportar para atendimento e depois não ter onde abrigá-los?

 

Gostaria de lidar diariamente com a dor e o sofrimento dos animais maltratados e abandonados pelo poder público e por parte da população que os vê como lixo? Gostaria de organizar eventos de adoção, ter todo o trabalho de levar os animais e voltar com vários pra casa porque não apareceram adotantes? Gostaria de ver sendo maltratado pelo adotante um animal que você resgatou doente e cuidou com todo carinho?

 

É esta uma parte da rotina dos poucos voluntários da Sociedade Galdina Protetora dos Animais e da Natureza de Caeté (SGPAN Caeté - MG), que hoje, 19 de junho de 2018, completa 10 anos (logo em anexo). A SGPAN é uma das ongs que compõe o Movimento Mineiro pelos Direitos Animais (MMDA).

 

A SGPAN existe porque o poder público ainda não cumpre a lei 21.970/2016, fruto de muita luta de quatro protetoras de Belo Horizonte, que se emprenharam ao longo de anos na Assembleia Legislativa, para que fosse aprovada. Esta lei obriga os municípios a fazerem basicamente castração em massa de cães e gatos e programas de conscientização da população para a guarda responsável dos animais.

 

Finalmente o poder público de Caeté - Prefeitura e Câmara - , depois de muita luta e cobrança da SGPAN, estão se mobilizando para o cumprimento da lei!

 

Solução

 

Qual a origem do problema?

Humanos domesticaram cães e gatos mas não se preocuparam em controlar sua reprodução.

 

Qual a consequência?

Cães e gatos vagando e agonizando pelas ruas, doentes, transmitindo doenças.

 

Qual a solução?

Castração em massa, programas de conscientização da população para a guarda responsável e promoção de eventos de adoção responsável.

 

Com muitas dificuldades a SGPAN fez isto ao longo desses 10 anos.

 

Socorremos mais de 3 mil animais.

 

Castramos cerca de 1.300 cães e gatos e conseguimos adotantes para mais de 1.000.

 

Mas é pouco diante do que realmente precisa ser feito para alcançar o controle populacional e acabar com abandono e maus tratos!

 

Caeté precisa fazer, no mínimo, 140 castrações por mês, 35 por semana, 7 por dia , para que dentro de três a quatro anos a cidade não tenha animais abandonados e doentes pelas ruas.

 

Todas estas ações para cães e gatos estão previstas na lei 21.970/2016. Há ainda a lei 22.231/2016 que prevê punição àqueles que cometem maus tratos. Estas leis precisam ser cumpridas!

 

Como a Prefeitura ainda não cumpre a lei, deveria repassar valores suficientes para, pelo menos, pagar as despesas com ração e atendimento veterinário, já que os voluntários da SGPAN fazem o resto do serviço de graça para a Prefeitura (resgatar, transportar, abrigar, alimentar, medicar, dar lar temporário, arrumar adotante etc). Dois projetos tramitam na Câmara Municipal atualmente é nossa esperança é que sejam cumpridos para benefício não só de animais, mas também da saúde das pessoas.

 

Dívida

 

Como a ong sobreviveu ao longo desses 10 anos?

 

Doações de seus próprios voluntários e de pessoas da comunidade, rifas, bingos, bazares etc.

 

A partir de 2015 passamos a receber doações também do Ministério Público. Em 2017, recebemos 25 mil de subvenção ANUAL da Prefeitura, o equivalente a 2.700 reais por mês.

 

Até abril/18 atendíamos uma média de 89 animais/mês, com custo médio por mês de 14 mil reais. A ração ficava em torno de 2.300 por mês para alimentar mais de 100 animais em lares temporários e moradores de rua. O total médio das despesas era de 16.300 reais.

 

As doações estavam em torno de 5 mil reais por mês do Ministério Público, 2.700 reais por mês da Prefeitura e 800 reais arrecadados pelos voluntários. Total das receitas: 8.500 reais/mês.

 

Déficit mensal de 7.800,00 reais

 

Não nos restou alternativa a não ser suspender o socorro aos animais. Foi a decisão mais difícil de ser tomada pelos voluntários em 10 anos de vida da SGPAN.

 

O que aconteceu ao longo de 2017 e em 2018 é que aumentou absurdamente o número de animais abandonados e doentes pelas ruas da cidade e, paralelamente, as doações de dinheiro e ração *caíram* muito. O número de adoções também caiu muito.

 

Outro problema é o cansaço e estafa dos voluntários da ong. Cerca de 70% têm stress e depressão e tomam antidepressivos. Há anos a SGPAN não repassa produtos de limpeza para eles.

 

Como dissemos no primeiro parágrafo, temos nossas vidas pessoais, familiares, profissionais e financeiras absurdamente prejudicadas por fazermos todo o trabalho que é dever do poder público.

 

Como o nosso trabalho é totalmente voluntário e somos pessoas físicas, qualquer cidadão pode fazer parte da SGPAN. Mas, infelizmente, muito poucas se dispõem fazer.

 

E algumas ainda se dedicam a criticar e achar que temos obrigação!

 

Seguimos adiante, fazendo o que podemos e, muitas vezes, o que nem podemos.

 

A população não recorre à Prefeitura porque sabe que não será atendida. E, desta forma, cidadãos comuns, voluntários de uma ong, carregam o peso de lidar com o sofrimento não só dos animais, mas também de donos pobres em desespero por não ter como pagar atendimento para seus animais.

 

De dia, de noite, feriados, finais de semana recebemos pedidos de resgate de animais, damos um jeito de conseguir transporte e encaminhar para atendimento na clínica, temos que decidir o que fazer diante de casos graves e diante da nossa extrema limitação financeira, acompanhar todo o drama doa animais doentes, sofridos, atropelados, maltratados, encarar toda a dificuldade para arrumar lar temporário e alguém que cuide dos animais, dê remédios, comida, banho etc até que fique bom e possa ser adotado; temos que lidar com pedidos de pessoas que têm recursos mas querem ‘aproveitar’ da ong; temos que encaminhar animais para castração, vacina, exames, autorizar atendimento fora do horário normal da clínica (plantão é mais caro e só autorizamos casos muito graves), acompanhar a conta da ong e viver na angústia por ver que não há saldo suficiente; viver pedindo doações e postando animais para adoção nas redes sociais, receber e apurar denúncias de maus tratos; definir a compra da ração, organizar a distribuição, fazer os pagamentos das despesas; receber os pedidos desesperados de pessoas pobres e seus animais com leishmaniose, organizar e executar eventos de adoção e palestras educativas, o desespero por não poder atender vários pedidos...

 

Onde a lei funciona

 

Lafaiete e Itabirito já executam a lei 21970/2016. Ibirité, Belo Horizonte, Contagem, Nova Lima, Formiga, Mário Campos são algumas cidades que estão encaminhando a execução. A vereadora e médica veterinária Carla Sássi, de Lafaiete, comunicou à SGPAN que está à disposição dos membros do Executivo e vereadores de Caeté para irem até Lafaiete conhecer o trabalho da prefeitura com os animais que é referência para todo o Brasil. Os convites foram entregues dia 18/6/18 na Câmara, juntamente com convite para os vereadores participarem da rotina da SGPAN durante 15 dias.

 

Cães comunitários

 

Sobre os cães comunitários da rodoviária e em outros pontos de Caeté, devemos estar certos de que, se alguém os retirar de lá hoje, amanhã haverá outros, e assim sucessivamente. A solução não é simplesmente recolher mas, sim, fazer castração em massa porque os locais são abertos e os animais ficam onde há aglomeração de pessoas, em busca de alimento. Eles já moravam lá antes da SGPAN começar a alimentá-los.

 

Mas não é só comida que damos!

 

Esses animais são vacinados, castrados, vermifugados e, assim, formam um escudo protetor para as pessoas que ali transitam! Ao terem sua saúde cuidada, eles não transmitirão doenças e, por serem territorialistas, afastarão a chegada de animais doentes.

 

Veja que a ação da SGPAN é muito mais que alimentar! Acabamos cuidando também da saúde dos humanos que por ali transitam e, por isso, o cuidado com estes animais é uma questão de saúde pública. Vários terminais rodoviários de cidades como São Paulo e Curitiba, por exemplo, têm cães comunitários cuidados pelas pessoas e por agentes das Prefeituras!

 

10 anos...

 

Nós, voluntários, protetores de animais, sabemos o quanto sacrificamos nossas vidas, mas sabemos também o quanto nos faz bem amparar esses seres inocentes, puros de coração e tão covardemente esquecidos por muitos.

 

Sabemos que o que fazemos é um trabalho de saúde pública e dever dos governos!

 

Ainda há muito o que fazer pelos animais: há muitos e covardes casos de envenenamento de gatos, ainda há muitos pássaros em gaiolas, cavalos escravizados em carroças, comércio de animais... Mas aos poucos as pessoas vão se conscientizando!

 

Nosso trabalho contribuiu muito para o bom índice de conscientização das pessoas em Caeté. Avançamos com alguns casos de apuração de maus tratos com a valiosa ajuda da Polícia, delegado Bruno Affonso; Ministério Público, promotora Anelisa Cardoso; Polícia de Meio Ambiente, cidadãos anônimos que no dia a dia respeitam, protegem e alimentam os animais!

 

Avançamos com uma gestão municipal que se dispôs a cumprir a lei – finalmente! - e apoio dos vereadores. Estamos lutando para que os poderem façam o que precisa ser feito: cumprir a lei!

 

Suspiramos e lembramos das centenas de animais que salvamos com a parceria essencial de muitos anos da Clínica Cães e Cia, do dr Horácio Alves.

 

Nosso sonho é que a SGPAN seja extinta daqui uns anos pelo fato de haver políticas públicas efetivas e bem sucedidas para os animais e alto nível de conscientização e respeito das pessoas com os animais!

 

Uma realidade em que não haverá dezenas de animais doentes, sofridos e abandonados suplicando por donos, mas sim pessoas disputando a guarda dos animais e de filhotes de uma rara ninhada de cães ou gatos!