Em defesa dos direitos dos animais

 

Há um ano, em abril de 2008, um grupo de voluntários se reuniu com o objetivo de buscar parcerias e implementar ações para resolver a questão dos cães abandonados em Caeté. Nascia assim a primeira ONG de proteção animal da cidade, a Sociedade Galdina Protetora dos Animais e da Natureza (SGPAN), nome dado em homenagem à uma cadelinha que morreu em março de 2008 vítima de dois adolescentes que atearam fogo em seu corpo.

 

O ocorrido com a cadela Galdina foi a gota d’água para a criação da ONG, idéia acalentada há anos pelo mecânico Marcus Vinícius Souza, presidente da SGPAN. “Em 2002 me veio a idéia de fazer algo para recolher e tratar os cães abandonados mas me faltou apoio. Mas depois que puseram fogo na cadelinha, no ano passado, fiquei mais determinado”, afirma Marcos, que decidiu então convidar um grupo de pessoas com conhecido perfil de sensibilidade com os animais. “Este grupo de voluntários, junto com os colaboradores, é que fizeram a diferença neste primeiro ano de atuação da ONG”, ressalta o presidente da SGPAN, ao fazer um agradecimento especial a todas as pessoas que doam recursos mensais e lembrar que os colaboradores podem participar das reuniões da ONG que acontecem uma vez por mês e ter acesso à prestação de contas.

 

Um ano de vida é um período muito pequeno diante do tamanho do desafio que os voluntários da ONG se dispõem a encarar, mas há avanços enormes, principalmente quando se conclui que tudo o que foi feito pela ONG foi resultado, exclusivamente, do voluntarismo de seus membros e da doação financeira dos colaboradores, sem nenhum apoio do poder público ou da iniciativa privada. Foram 115 cães atendidos, uma média de 10 cães por mês, todos em situação de abandono, fome e doença ou encaminhados para castração. “O caminho é muito difícil, há muitas pedras, mas os guerreiros que estão construindo a SGPAN já conseguiram uma evolução muito grande apenas com o tempo doado para a ONG. Tenho muita admiração pelo trabalho que estão fazendo”, destacou o veterinário Horácio dos Anjos, que atende na cidade há 12 anos.

 

A grande tarefa da ONG neste segundo ano de vida que se inicia é a implantação de um abrigo para recolhimento de animais abandonados, vítimas de maus tratos e doentes. “Com a ONG, tive a esperança de aplicarmos o dinheiro das doações no abrigo de Caeté mas como ainda não foi possível, nossa alternativa foi recolher e levar para onde houvesse possibilidade de recebimento, como algumas ONGs em BH. Investimos os recursos doados pelos colaboradores no pagamento de transporte para BH, exames, internações, castrações, remédios, enfim, tudo o que fosse necessário para resgatar e encaminhar cães doentes e abandonados”, conta Jussara de Oliveira, vice-presidente da ONG, que junto com Marcus e o veterinário Horácio defendem as campanhas de posse responsável e de castração como formas de resolver a questão da superpopulação de cães na cidade no médio e longo prazos.

 

Atualmente, os locais que antes recebiam cães de Caeté não estão acolhendo mais, tornando ainda mais urgente a criação de um abrigo na cidade. São inúmeros casos de cães pelas ruas, doentes, famintos, atropelados, feridos, ninhadas abandonadas em beiras de estradas que são indicados, por moradores de Caeté, para a ONG socorrer. Sem um abrigo, este trabalho fica impossível de ser feito.

 

Parcerias

 

Recentemente, a ONG recebeu o apoio dos vereadores, mais especialmente do presidente da Câmara, Prutaco, e de outros que se posicionaram favoravelmente aos trabalhos da ONG como José Francisco, Tequinho, Dalton Pessoa, Cassius Topa Tudo e Pedro Galo de Briga.

 

Para avançar ainda mais, a ONG precisa agora ampliar suas parcerias. “Temos em 2009 o desafio de estabelecer parcerias mais amplas com o poder público e a iniciativa privada. Tudo indica que teremos o apoio da Prefeitura em breve. Em nossa reunião de 14 de abril o prefeito Ademir de Carvalho enviou um representante, que solicitou um documento formalizando as demandas da ONG. Ficamos muito satisfeitos com o gesto do prefeito e esperamos conseguir o tão sonhado abrigo”, destacou o presidente da SGPAN, que espera contar também com a ajuda da Polícia Ambiental. “Ela esteve presente na nossa primeira campanha de castração e tem um papel importante na apuração de denúncias de maus-tratos”, observa Marcus. Aliás, a Polícia Ambiental de Caeté também precisa de um espaço para encaminhar os cães retirados de situações de maus tratos, conforme previsto em lei. “Podemos fazer uma parceria”, disse o sargento Orlando, comandante da Polícia Ambiental de Caeté, lembrando que o ideal é que a cidade tenha abrigos também para todos os outros tipos de animais vítimas de maus tratos.

 

A preocupação da Prefeitura, segundo o secretário de Governo e Planejamento, Elmer Pessin, é com a continuidade do funcionamento do abrigo após sua instalação. “Há interesse da Prefeitura em estabelecer esta parceria com a ong; há locais que vêm sendo estudados para este fim. Nossa preocupação é com manutenção do abrigo”, destacou o secretário. Há alguns dias a SGPAN entregou o documento ao prefeito Ademir contendo seus objetivos e necessidades, como a área para o abrigo e infra-estrutura.

 

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Quem quiser ser um colaborador da ONG pode contatar Jussara, no telefone 3652-5011 ou fazer depósito de qualquer valor no banco Itaú agência 3085 conta corrente 12794-6. A ONG, através da Jussara, está cadastrando cães cujos donos tem interesse em castrá-los pois em breve a SGPAN promoverá sua segunda campanha de castração.

 

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Cães de Caeté

A cidade tem em torno de sete mil cães. Deste total, 20% (1.400) têm dono.

Grande parte dos 5.600 restantes têm donos mas não são tratados adequadamente ou sempre saem para as ruas.

Entre 30 e 40% dos cães atendidos na Clínica Veterinária Cães e Companhia têm leishmaniose. Estima-se que 20% dos cães da cidade estejam contaminados (1.400 cães)

Fonte: Clínica Cães e Companhia

 

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Leis que precisam ser cumpridas

 

As leis de proteção dos animais são claras e precisam ser cumpridas. O Artigo 32 da Lei Federal nº. 9.605/98 diz: “É considerado crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”, com pena de detenção de três meses a um ano e multa. O artigo 16 diz que “as autoridades federais, estaduais e municipais prestarão aos membros das Sociedades Protetoras dos Animais, a cooperação necessária para fazer cumprir a Lei”. O Código de Saúde do Estado de Minas Gerais, no artigo 39 define que o proprietário que já não tiver interesse em manter seu animal deverá solicitar ao órgão responsável orientação sobre sua destinação, não podendo abandoná-lo, sendo que compete ao poder público definir os locais adequados para a destinação do animal. Qualquer cidadão que presencie maus tratos contra os animais deve denunciar. Em Caeté, a Polícia Ambiental recebe e apura denúncias. Há vários casos de pessoas que respondem processos por agressões contra animais.

 

Uma questão de saúde pública

 

As doenças que afetam os cães, como a leishmaniose, podem ser transmitidas ao homem e até matar. Dados do Ministério da Saúde mostram avanço da leishmaniose visceral no Brasil: houve um aumento de 61% entre 2001 e 2006, quando foram registrados 4.526 casos em humanos. Em julho de 2007 já haviam sido registrados mais de três mil casos da doença, fatal em mais de 90% dos casos sem tratamento. Em Caeté, a Secretaria de Saúde informou que, em 2008, foi registrado um caso da leishmaniose visceral, que ataca fígado e baço.

 

Os mosquito palha é o transmissor da doença. Ele põe seus ovos em áreas com lixo, folhas em putrefação, esterco etc. Ao serem picados pelo mosquito os cães adquirem a doença.

 

Para o médico veterinário Horácio Alves, a redução do número de cães com leishmaniose só acontecerá com a realização de campanhas de conscientização para a posse responsável, o apoio da Polícia de Meio Ambiente e os investimentos públicos em parceria com a atuação da ONG, além da dedetização para eliminar o vetor, que é o mosquito transmissor. Ele indica a aplicação da vacina específica contra a doença e a colocação de uma coleira que deve ser substituída a cada quatro meses, além do uso de spray de citronela. Segundo ele, os donos devem atentar para outras doenças que afetam os cães. “Além da vacinação contra a raiva, os donos de cães devem aplicar, uma vez por ano, a vacina octupla, que protege contra oito doenças, entre elas a cinomose, muito comum em Caeté”, informa o veterinário.

 

Em nota, a Prefeitura, através da Secretaria de Saúde (Centro de Zoonoses) informou que, a partir da incidência de casos humanos na região, os agentes da secretaria vão até as casas e recolhem sangue dos cães, sendo que os positivos são submetidos a eutanásia. Dependendo do número de incidência de cães positivos ocorre também, a “borrifaçao” com uso de inseticida de casa em casa. Todas as quartas-feiras, de 8 às 11h30, a Prefeitura faz coleta de sangue na Policlínica para a realização de exame de leishmaniose em todos os cães que são levados ao local.

 

“A Prefeitura Municipal de Caeté ainda não tem um local para colocar esses cães, mas em parceria com a ONG protetora dos animais existe estudo preliminar para um local que possa abrigar tais animais. A castração é uma ação muito importante que também está sendo estudada em parceria com a ONG”, diz a nota, que traz os artigos 38 e 39 do Código de Saúde do Estado de Minas Gerais.

 

Sabará, fonte de inspiração

 

Da vizinha Sabará veio o exemplo que está sendo seguido por Caeté. Mais especificamente este exemplo tem nome: Vera Lúcia Ferreira, que em 2001, criou a Associação Sabarense de Proteção dos Animais e da Natureza (Aspan) e, com recursos de seu próprio bolso, comprou um terreno e implantou um abrigo para cães abandonados. “Já castramos mais de sete mil cães e isto significa que mais de 50 mil cães deixaram de nascer na cidade”, afirma Vera.

 

Atualmente o abrigo da Aspan tem 147 cães que recebem comida e atendimento médico e ficam à disposição para adoções. A própria Vera é quem recolhe os cães. A ONG tem ainda uma unidade móvel para realizar castrações, veterinário que atende os animais duas vezes por semana e um funcionário para a limpeza e alimentação dos animais.

 

Em março de 2008 uma equipe da Aspan esteve em Caeté numa parceria com a SGPAN e castrou 38 cães. “Sem abrigo e sem castração não tem condições, não adianta nada, tudo vira uma bola de neve”, alerta.

 

Em junho de 2008 Vera esteve em Caeté a convite da SGPAN e compartilhou seus desafios e experiências. “Disse a eles que a luta é árdua, não é nada fácil não. Se não tiver muito fanatismo pela causa o trabalho não vai pra frente”, alerta. Sobre a ong de Caeté, Vera se diz entusiasmada. “A SGPAN está de parabéns porque é um grupo de pessoas engajadas, isto é uma grande vantagem, eu não tive quase ninguém”, lembra.